Grupo de Pesquisa

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quinta-feira, 21 de abril de 2011

Pílulas Teóricas

Por uma Cultura de Paz
Marcelo Rezende Guimarães*



[...]O conceito de cultura de paz reconhece que a paz tem, além de raízes sociais, econômicas e políticas, uma base cultural. A cultura, por um lado, diz respeito às expressões produzidas e criadas pela humanidade e, portanto, como uma realidade ligada ao ato de aprender, transmitir, educar; por outro, como aquilo que subjaz a estas mesmas expressões. Aqui o conceito de paradigma – como uma realidade que é lógica, pré-lógica, supra-lógica - poderia ser esclarecedor. E é exatamente neste sentido que queremos conduzir esta reflexão sobre cultura de paz, servindo-nos especialmente da categoria de transição ou mudança de paradigmas.


[...]Embora a educação para a paz constitua-se num conceito abrangente, abrigando as mais diversas experiências, tanto na educação formal como não-formal, sob os mais diversos títulos, podemos constatar um núcleo comum de preocupações comuns, tais como:
a) Criar referenciais não-violentos e fortalecer conexões. A educação para a paz apresenta-se como um espaço onde as pessoas firmam-se como pacifistas, inserindo-seas no quadro global da humanidade que caminha para a paz e fazendo repercutir para o seu cotidiano aquilo que é a busca das pessoas comprometidas com a paz no mundo.
b) Formar consenso para a paz. A educação para a paz como um espaço de debate, diálogo e negociação para que a humanidade opere um consenso em torno da paz, como operou, por exemplo, em torno dos direitos humanos.
c) Fortalecer pessoas para serem ativistas de não-violência. A possibilidade da paz funda-se na habilidade humana, não apenas para agir, mas para agir em concerto, constituindo-se em uma das mais decisivas experiências humanas.
d) Abolir preconceitos e estereótipos. A cultura de violência, como construção humana, se fundamenta nos preconceitos e estereótipos que produz. O reconhecimento e a crítica a ambos – e à sua força de falsear a realidade – constituem um passo importante para a solidariedade e cidadania mundial.
e) Instrumentalizar a resolução não-violenta de conflitos. Tradicionalmente, o conflito costuma ser encarado como algo ruim e negativo. No entanto, o conflito não é, em absoluto, obstáculo a uma cultura de paz. Conflitos são normais e não são necessariamente positivos ou negativos, maus ou ruins. É a resposta que se dá aos conflitos que os torna negativos ou positivos, construtivos ou destrutivos.
f) Diminuir o potencial de agressão. Há uma diferença entre agressividade e violência. A agressividade constitui-se a força vital de cada pessoa, necessária para superar os obstáculos e limitações próprios do cotidiano.

g) Criar aversão à violência, com atitudes anti-militaristas e rejeição da violência. Segundo Boaventura de Souza Santos, o pensamento crítico, para ser eficaz, tem de assumir uma posição paradigmática para, partindo, de uma crítica radical do paradigma dominante, tanto dos seus modelos regulatórios como dos seus modelos emancipatórios, desenhar os primeiros traços dos horizontes emancipatórios em que eventualmente se anuncia o paradigma emergente.



Dessa forma, a educação para a paz apresenta-se como um dos mapas sociais que possibilitam orientações novas, reorientações e mudanças de posicionamentos em relação à violência e, ao mesmo tempo, um espaço onde as pessoas firmam-se como militantes pacifistas e de direitos humanos, inserindo-as no quadro global da humanidade que caminha para a paz e tornando-se uma experiência de descoberta e de articulação com as múltiplas frentes de promoção dos novos paradigmas.


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* Doutor em educação pela UFRGS, coordenador da ONG Educadores para a Paz e assessor do Programam de Prevenção à Violência No Meio Escolar da SMED/Porto Alegre .
[1] GALEANO, Eduardo. De pernas pro ar: a escola do mundo ao avesso. Porto Alegre: L&PM Editores, 1999, p. 5-7.
[2] SANTOS, Boaventura de Souza. A crítica da razão indolente: contra o desperdício da experiência. São Paulo: Cortez, 2000, p. 56.
[3] Idem, p. 15-16.
[4] Idem, p. 249.
[5] MALDONADO, Maria Tereza, op. cit., p. 96.
[6] AGUILLERA, Beatriz et alii. Educar para la paz. Madrid: Centro de Investigación para la Paz, s/d., p. 16.
[7] Idem, p. 16.

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